quinta-feira, 24 de março de 2011

Teatro completo

Andei afastado deste blog por boooooooooooooooooooons tempos. Hoje de manhã terminei de ler o Teatro completo, de Hilda Hilst, e coincidentemente recebi um comentário sobre uma de minhas primeiras postagens. Assim, num sei lá, me deu vontade de escrever aqui novamente.

Pois bem, o livro é composto por oito peças teatrais, escritas durante cerca de 3 anos, de 1967 a 1969, ou seja, o ponto alto da ditadura militar brasileira (me recuso a usar letras maiúsculas). Importante ressaltar esse fato, já que pelo menos duas das peças estão escancaradamente ligadas a isso. Ou melhor, em se tratando de HH, não posso dizer escancaradamente. A mulher foi poeta da mais alta estirpe, e se se lançou a escrever teatro, foi porque sentiu essa necessidade - já ouviram\leram a palavra zeitgeist? não? informem-se. Sendo poeta, ah, tive uma ideia, sendo POETA, seu teatro não seria somente dramático, levando seus personagens a representarem conflitos entre si. Transcendendo por cada uma de suas palavras está o lirismo, a subjetividade do eu. Talvez o conflito dessas peças seja basicamente entre o eu e o eu (que faz o ser humano de sua existência torpe?), porém não sem duras críticas aos homens de seu tempo.

Outro fato a ressaltar é a recusa hilstiana de se enquadrar (delimitar) a um gênero. A palavra, a linguagem, são duas coisas majestosas, e a relação com o mundo é tão intensa e complexa e caótica (não, eu não fui descuidado, escrevi mesmo intensa E complexa E caótica, leia mais poesia, estranhado leitor) que um só gênero textual, uma só configuração não são suficientes para a grandeza do talento de HH. Mais importante que contar histórias e representá-las é senti-las, é emocionar-se, é compreender usando o corpo inteiro, é integrar razão e emoção. É por isso que Hilda pega a linguagem e a desdobra, obrigando-nos, leitores, a sentir seu texto. Suas ficções em prosa, posteriores às peças teatrais, estão permeadas de poesia, ou seja, prosa poética, ou seja (é intencional!) os gêneros se misturam, confundem-se e fundem-se num caos organizados pela precisão da pena da Poeta.

Tal é sua ousadia, tal sua magnificência (neologismo? ahn-ahn, consulte um dicionário) que em dado momento de sua carreira literária, munida de seu singular senso de humor, ela resolveu chamar a atenção do público e dos editores com textos pornográficos. Quem consegue unir pornografia e metafísica? A obscena senhora Hilda Hilst.

Mas voltando ao teatro, não colocarei aqui resumo de nenhuma das peças por dois motivos. O primeiro, seria por demais exaustivo, posts de blogs devem ser curtos. O segundo, enredar (dicionário leitor, dicionário...) um texto hilstiano é tarefa hercúlea, e eu não tenho nenhuma pretensão heroística. Pra não parecer preguiçoso, caríssimos leitores, deixo-lhes os nomes das peças: "A empresa", "O rato no muro", "O visitante", "Auto da barca de Camiri", "As aves da noite", "O novo sistema", "O verdugo" e "A morte do patriarca".

Boa leitura!

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