sábado, 20 de junho de 2009

Ensaio sobre a cegueira

Confesso, sem orgulho, que fiquei um bom tempo com preconceitos quanto ao livro Ensaio sobre a Cegueira do escritor português José Saramago. O fato de ele ter sido laureado com o Nobel de literatura em 1998 me deixou ainda mais temeroso uma vez que iria encontrar certamente um estilo culto e de difícil compreensão.

Vencido o preconceito e a inércia inicial comecei a leitura do livro. De cara me vi em uma leitura frenética e claustrofóbica que diferente de minha última leitura me manteve atento e curioso a cada página. Devo dizer que o estilo único de Saramago com parágrafos quilométricos e sem separação clara entre diálogo e texto confundem a leitura. Mas a partir do segundo ou terceiro capítulo já estava acostumado e isto me deixava ainda mais envolvido com a história fazendo do estilo particular do autor um algo a mais a narrativa.

Além do estilo ainda tínhamos a barreira da linguagem “Barreira da linguagem?“ dirão alguns. Pois sim, barreira da linguagem. Saramago é, como já disse, um "tuga" e por isto usa as expressões, maneirismos e figuras típicos de sua gente. Uma vez que o livro não foi "traduzido" estes maneirismos vieram a rodo e muitas vezes me tiravam da concentração e por conseqüência acabavam por me tirar da história. Não por não entender o sentido de uma frase mas mais por não lembrar o significado de expressões que o Brasil caíram em desuso. Chávena foi um exemplo disto, lembrava de já ter lido, lembrava que era um utensílio do café, mas não lembrava com clareza QUAL utensílio era. Supus corretamente que era a xícara, porém não sem dar umas risadas pela palavra e por isto quebrar o momento tenso em que foi empregado.

Dito isto, vamos a história. Tal qual Kafka a história não se detém explicando minúcias. Um homem simplesmente fica cego dentro de seu carro. Sem mais nem menos. Assim como não se dão explicações não se dão nomes. As pessoas, incluindo os protagonistas da história, são sempre referenciadas por uma característica única ao momento que primeiro apareceram na história. O interessante é que tal é o ritmo da história que o leitor (eu no caso) só se dá conta disto muito adiante na história. Tocando em pontos bem doloridos de nossa sociedade o autor vai mostrando no decorrer das páginas diversas facetas humanas que, ao menos para mim, me deixaram muito desconfortável sobre tudo.

Realmente um livro que vale a pena ser lido e que abre portas para outras leituras do autor. Se o filme do Meireles conseguiu captar os dilemas do livro deve ser realmente um filme estupendo. A pergunta que ficou comigo ao final do livro e que eu deixo a vocês. “O que é a cegueira. Um estado de espírito ou de corpo?”

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Niketche

Paulina Chiziane, autora de Niketche uma história de poligamia, primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, far-se-á presente na 13ª Jornada Nacional de Literatura.
Li o livro, excelente.
Rami conta como passou de uma simples mulher submissa a seu marido poligâmico a uma mulher forte, poderosa, orgulhosa de sua condição. Ela relata o processo de assumir sua femilidade e o que nisso há de inerente numa sociedade hipócrita. Por isso uma história universal, mesmo que limitada ao espaço moçambicano e a um tempo recente.
O livro tem denúncias sociais, tem lirismo, tem humor. O texto tem bastante fluidez.
Como legado, o romance traz à tona reflexões sobre comportamento. O quanto do que fazemos faz parte da nossa natureza? O quanto nossa cultura, nossas convenções sociais tolhem nossos comportamentos, ou nos forçam a fazer coisas que não desejamos, que ferem a nós mesmos ou a outras pessoas? Quão necessária e recompensante é a vingança? Quão necessária é a humilhação, para que renasçamos das cinzas e nos transformemos como seres humanos? Quanto de influência há em nós de nossas raízes familiares e culturais? Quão difícil é livramo-nos disso?
Essas seriam algumas perguntas às quais eu responderia se isto fosse um ensaio. Entretanto, é um post de um blog. Portanto, paro por aqui.