terça-feira, 22 de setembro de 2009

Acenos e afagos

De antemão aviso: não é um livro fácil, mas é maravilhoso!

Acenos e afagos, de João Gilberto Noll, é um livro escrito em um só bloco de texto. Não há parágrafos, não há figuras, não há espaços. Há somente o fluxo de consciência do narrador protagonista, de forma fragmentada, não-linear. Ou seja, complexa.

Mais ainda pela trajetória do protagonista. No início, homem confuso relembrando fatos marcantes do passado, cuja vida vai o levando a uma espécie de loucura (ou lucidez extrema). Uma história regada a sexo e perversões, mas não de forma parnasiana (arte pela arte, sexo por sexo). Há um sentido nas peripécias sexuais do homem. Há uma busca.

Escrevi antes no início homem, porque há transmutação. Não se trata de ambiguidade, de dúvida, mas sim de um homem que passa para outro lado, que se vê e se sente mulher em dada parte da narrativa. Por se tratar de literatura, é possível e verossímil, dentro da obra, que o corpo mude do personagem mude. Ao final, protagonista não é homem, não é mulher, não é bicho. É algo dos três e ao mesmo tempo nenhum. É uma criatura, se divina ou profana não sei, que é capaz de sentir na carne os prazeres masculinos e feminios, que é capaz de gozar como homem e como mulher.

Nestes tempos de crise masculina, considero Acenos e afagos uma obra prima.

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