quarta-feira, 15 de abril de 2009

Clarissa

Roubando as palavras do seu Amaro, a Clarissa é música, é poesia. A menina interiorana e bobinha que se delicia com o mundo, brilha por ganhar a autorização de usar sapatos de salto-alto e sofre por ver que as pessoas não são puras como ela. Pureza e simplicidade é a essência da personagem e o encanto da leitura.

Ler Clarissa trouxe a minha mente memórias de quando era menina-moça! Descontando as diferenças de cultura dos anos 30 e dos anos 90, senti-me a própria Clarissa. A tentativa de entender o mundo, que parece às vezes divertido, outras amável, também rude e principalmente encantador.

Assim como ela sonhava em poder ir ao cinema, passei meses sonhando poder ir a uma festa. Vibrei quando ganhei autorização da minha mãe para pintar os cabelos de vermelho (sim, eu já usei cabelo vermelho e unhas pretas). Passava as tardes sentada nas escadas do pátio da escola que eu estudava, jogando conversa fora e percebendo as pessoas ao meu redor. Tinha a mãe do Francisquinho, que sempre chegava a tardinha para buscá-lo e gritava: Francisquiiiinhooo! Todos os dias.

A cada pensamento de Clarissa, eu viajava junto. Ela se perdia no seu pensamento e eu no meu...

Minha vida era uma rotina gostosa. Ia pra escola, pro inglês, passeava com amigas na rua, voltava pra casa antes das 17:30 para cuidar do meu irmão mais novo até minha mãe voltar do trabalho, assistia seriados e desenhos animados, alimentava um amor platônico, que fazia meu coração saltar pela boca só de ganhar um oi ao encontrar por acaso o moço na rua. Quantos suspiros. Quantos escritos sobre o assunto (eu tinha um diário)... Quantas histórias longas e animadas contadas em 30 segundos, deixando o ouvinte adulto zonzo com a rapidez e a quantidade detalhes...

Infelizmente, minha vida, como a de Clarissa, não era somente alegrias. Chorei muitas vezes por desilusão com a humanidade. Lembro-me de uma vez que encontrei na rua por um acaso o amor platônico de uma colega. Eu morava numa cidade de 60 mil habitantes, acasos eram comuns. Comentei com ela. Dias depois todas as meninas do grupo não queriam falar comigo, porque alguém inventou que eu estava dando em cima do amor dela. É, nem que eu quisesse, era tão inocente na época que não saberia nem como fazer. E eu chorei, por dias e mais dias. Como as pessoas são más. E num súbito, fiquei feliz de novo.

Deleitei-me sobre as páginas da narrativa comparando a personagem comigo mesma. Tão diferente e tão igual a mim.

Por fim, acabo de ser interrompida enquanto escrevia essas palavras, com uma bela surpresa. Toca o interfone, atendo, é o moço pelo qual hoje meu coração salta pela boca. Passou na minha casa antes de ir à aula para trazer meu presente de páscoa. Estou como a Clarissa ao ver o lindo peixinho dourado. É exatamente o ovo que eu mais namorei no supermercado... Semelhanças? Talvez meras coincidências!

Um comentário:

Diogo da Costa Rufatto disse...

ahh, lembro desse dias de choro, só não sabia o porquê... agora sei!!!

e, ah, que romântico!!!

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