sábado, 14 de março de 2009

Clarissa - Erico Verissimo

Serei eu o inaugurador oficial dos posts sobre Clarissa? Que honra...

Vamos lá: indiquei a leitura de Clarissa pensando em alguns apontamentos feitos por demais integrantes do grupo, tais como um livro mais antigo para fazer um contraponto com a atualidade. Clarissa é uma personagem ótima para isso. Logo no início o narrador da história já revela quem é ela: uma menina que está prestes a fazer 14 anos de idade, inocente e sonhadora. Isso se prova quando o fluxo de consciência da protagonista se faz presente na narrativa.

Já havia lido Clarissa não sei há quantos anos, por isso achei que o momento que vivemos daria um bom contraponto com a obra. E ainda nem sabia da notícia da menina de 9 anos que engravidou de gêmeos após ser estuprada pelo padrasto, do médico que realizou um aborto e depois foi excomungado. Espraguejei a “Santa” Igreja Católica até não poder mais. Entretanto, um amigo me disse “Isso é bom, faz as pessoas sentirem mais ódio da Igreja e se afastarem cada vez mais”. Tive que concordar. Abaixo a alienação religiosa. Mas isso é assunto pra outro post...

O interessante é que Clarissa, menina interiorana, bobinha até, vai estudar em Porto Alegre, a capital, e morar com sua tia numa pensão, onde há várias pessoas, várias culturas, várias diferenças convivendo diariamente, dividindo um mesmo espaço. Isso maravilha Clarissa, que viaja em seus pensamentos, talvez até se perca um pouco, mas ao se perder se encontra novamente, já em outro lugar, o que significa mudança, evolução. Clarissa tenta entender o mundo que a cerca, um mundo estranho, às vezes cruel, como para o vizinho Tinoco, às vezes delicado, como o presente de seu Amaro. Clarissa tenta entender as pessoas a sua volta, que estão sempre reclamando, sempre lutando, algumas meio tristes, outras brigando, outras misteriosas. Clarissa tenta entender a si própria, as mudanças no seu corpo e mente e aquela sua vontade de viver, de conhecer lugares diferentes, de sentir emoções diferentes, e de ser admirada pelos rapazes e arrumar um namorado. Aqui saliento novamente, ele faz 14 anos no decorrer da narrativa. Aliás, o presente que sua mãe lhe dá é a autorização para usar sapatos de salto. Alguma semelhança com a atualidade?

A mim mesmo perguntei e agora pergunto a vós, leitores, ainda existem pessoas inocentes como Clarissa? A história se passa no início do século XX, é verdade, quase 100 atrás, os tempos são outros, as necessidades são outras, incluindo a de ser precoce para atingir maior sucesso. Será isso positivo? Não fará falta a inocência, a descoberta de um mundo diferente no mesmo mundo em que sempre vivemos, o deslumbramento?

Pensei e pensei e lembrei que já fui inocente, infantil, bobo, e todas essas etapas da minha vida foram importantes. Se um dia tiver filh@s (uso arroba para não determinar gênero) espero que passem por todas essas fazes também, pois acredito que fazem falta, sim. Hoje perdi muito da inocência, eu acho, mas tento sempre manter o deslumbramento de que Jostein Gaarder diz serem feitas as crianças e os filósofos. Um pouco pretensioso, reconheço. Mas a vida não tem graça sem poesia, pelo menos não a minha...
Lembrei também de uma colega que tive no Ensino Médio. Uma menina linda e gostosa (os conceitos são diferentes, dependendo de quem fala, principalmente). Se ela quisesse, poderia ser femme fatale. Mas ela era tão inocente, tão pura em sua forma de conduzir a vida!

Finalizando o post (leitores, lei até o fim, por favor), Clarissa é um livro ótimo para repensarmos o deslumbramento com a vida. Não há grande metafísica, isso ficaria para o Erico Verissimo mais maduro, visto que Clarissa foi sua segunda publicação e primeiro romance. E a história de Clarissa segue, característica do autor de dar continuidade às vidas de suas personagens, no livro Música ao longe. Se quiserdes, podeis ler também Caminhos cruzados e Um lugar ao sol, nessa ordem mesmo. E a história ainda segue, mas confesso que só li até aí...

Boa leitura a tod@s!

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostaria de deixar o e-mail do projeto Confraria de Leitura, coordenado por mim há 14 anos no Ceará:coreausiara@yahoo.com.br

João Teles

Clarissa disse...

Foi o primeiro romance que li, por motivos óbvios. Concordo com tudo o que disse, e reforço: há uma doçura, uma leveza na personagem que, em oposição a Amaro (nome tão alegórico), engrandece mais a obra. Boa indicação! Abraço.

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